12 de junho de 2007. Essa foi a data em que deixei
de gostar do Dia dos Namorados. Não, não foi o dia em que aprendi sobre sua
criação, seu teor comercial/vazio/capitalista. Foi o dia em deixei de gostar
mesmo. Porque antes, eu gostava e queria comemorá-lo.
Status daquele dia: eu, solteira há anos, sem nada
a fazer. Uma grande amiga, namorando, estava sozinha porque o namorado ia
participar de um evento em Cannes. A amiga liga - carente toda vida - para
saber se eu não gostaria de sair para jantar (eu devia ser a única a opção do
dia, mas gosto de acreditar que minha presença é algo fantástico e que a
animaria muito) e eu, toda solícita que sou, aceito.
Após uma grande aventura no velho Fiat Uno de
guerra (que merece um post só dele), chegamos ao Leblon. Restaurantes? Esqueça:
tudo lotado! A saída mais próxima foi ir a um shopping. Conseguimos mesa num
restaurante de hamburgueres e outras gordices. Óbvio, carne gordurosa e pão não
formam um programa romântico.
E lá eu vi porque o Dia dos Namorados é uma farsa:
havia uns seis casais, além de nós, e todos calados. Sim! Calados! Cada um
olhando pro seu prato. Que divertido, não? Se ao menos os smartphones fossem
tão acessíveis, as pessoas poderiam estar se relacionando com alguém naquele
momento. Eles só estavam lá, mas não sentiam nada lá (talvez só um estômago
cheio).
Só eu e minha amiga falávamos. E falávamos. E
falávamos. E nos chamávamos de “chuchu” (não me perguntem, pois não sei porque
nos chamamos assim até hoje). Chuchu é brega pracarai, mas é chamativo
carinhoso. Então, éramos as únicas a demonstrar afeto. Num determinado momento,
a menina entediada na mesa ao lado falou (pasmem!) com seu namorado(?): “olha
que fofo, elas saíram pra comemorar também”. Ah, para quê, mulher de Deus, você
foi falar isso? Claro que fingimos ser namoradas, nada explícito ou diferente
do “chuchu”, mas aceitamos o papel. Recebemos outros olhares, mas, perto do
preconceito nosso de cada dia, acredito que nos trataram relativamente bem
porque era Dia dos Namorados.
SÓ
PORQUE ERA DIA DOS NAMORADOS!!!
Quer dizer, então, que só nesse dia o amor está
liberado? Quer dizer que nesse dia, criado por um publicitário com a missão de
aumentar vendas da Clipper, eu tenho de estar acompanhada para provar que “não
é só com beijos que se prova o amor”? Eu não posso ter uma TPM? Meu namorado
não pode querer ver um jogo? Não podemos ter dor de barriga?
Temos mesmo que mudar toda a nossa rotina para fazer um dia especial só
porque nos disseram que é especial?
Pronto! Toda a raiva começou...
Ainda considerei por algum tempo que eu estava tendo reação de solteira.
Sabe, aquela coisa de negar pra ser feliz...
Hoje, casada, vejo que não. Não comemoramos o Dia dos
Namorados. Não sabemos se chegamos a comemorar algum talvez no começo do
relacionamento, quando ele era diferente e eu não queria magoá-lo. Se sim, foi
tão insignificante que não nos recordamos. Mas me lembro do dia em que ele me
reensinou a andar de bicicleta. Ou daquele que descobrimos o nosso restaurante
favorito. De quando ele – tão timidamente - falou que me amava pela primeira
vez. Ou de quando fomos à praia pela primeira vez. Da noite na casa noturna na
primeira festa de rock.
Lembro-me de detalhes desses dias: expressões, aromas, tatos... Em nenhum
deles ganhei presente. Nenhum deles foi em 12 de junho. Mas pode ser que no
futuro um fato marcante aconteça nesse dia. Mas não por obrigação, mas porque
foi assim...
Porque é sim com beijos que
se prova o amor!
No dia 12 de junho de 2007, voltando pra casa, escutei Katy Perry. Sim, crianças, lembro-me de coisas bizarras.
Mais sobre Dia dos Namorados aqui.